INTRODUÇÃO
O princípio do problema acerca da Inquisição está no movimento de propaganda anticatólica, que possui fortes raízes nos iluministas. Sendo o pressuposto colocar-se contra a Igreja Católica, independentemente da validade dos argumentos, um dos objetos mais atacados é a Inquisição. E para difamar e caluniar a Igreja, escolhe-se um tema (como o da Inquisição), observa-se a realidade da época parcialmente, interpretam-se os fatos tendenciosamente à luz da mentalidade atual, e, por fim, podem-se acrescentar informações falsas, sempre com o objetivo de denegrir a imagem da Igreja Católica, Construtora da Civilização Ocidental.
A Inquisição é frequentemente vista como uma chaga na história da Igreja. Muitos professores (de cursinho, de faculdade...), inclusive católicos, se encarregam de propagar os mitos a respeito da Inquisição, partindo de um princípio inquestionável de que a Igreja está errada. O problema é que muitas pessoas não demonstram interesse em procurar a verdade sobre este episódio, em inteirar-se do assunto, e enquanto verdadeiros católicos defender a Igreja.
Até onde tenho conhecimento, em português não há muitos livros sobre a Inquisição, o que configura um problema. No entanto, existe um livro em português do professor Felipe Aquino – o qual, acredito, por sua atuação na educação, deve ter tido bastante contato com pensamentos e falas desprezíveis de alunos e professores sobre a Igreja, motivando-o então a lançar trabalhos que visem a dignificar a imagem da Igreja perante os leitores brasileiros – chamado “Para Entender a Inquisição”, no qual sua intenção é proporcionar ao leitor um maior entendimento sobre a mal vista Inquisição, desmitificando os discursos daqueles que tentam manchar a sua imagem injustamente.
Basicamente, os discursos que os inimigos da Igreja fazem contra a Santa Inquisição são que: o termo “Santa” é irônico, porque de santa não tinha nada; mandava matar na fogueira milhares de pessoas por não praticarem o catolicismo; era intolerante, perseguia os hereges (estes vistos como heroicos por serem corajosos de afrontar a instituição “demoníaca” por “definição”) e promovia a tortura; era contra a ciência porque esta tiraria seu poder sobre a massa ignorante do povo; era contra o conhecimento porque mandava queimar livros; etc.
Felizmente, “de 29 a 31 de outubro de 1998, por iniciativa do Papa João Paulo II, realizou-se em Roma um Simpósio Internacional sobre a Inquisição (SV), cujas Atas foram publicadas. Pronunciaram-se cerca de 30 renomados historiadores, conhecidos internacionalmente, cujos trabalhos foram posteriormente editados pela Editora Vaticana sob o título “L'INQUISIZIONE”, volume precioso pela riqueza dos temas debatidos.”1, não importando nacionalidade, credo religioso, orientação ideológica, escola historiográfica, onde aparecem dados que calam os opositores.
HISTÓRIA DA IGREJA
Um grande erro é julgar os acontecimentos da Idade Média baseando-se em “critérios” vigentes atualmente. Várias pessoas de hoje, aparentemente com tantas contradições, vivem propagando a importância da contextualização, mas quando se trata de avaliar a Idade Média, a Inquisição, este procedimento de contextualização “misteriosamente” some. Ou ainda, não consideram o devido contexto histórico no qual ocorreu a Inquisição. Para tanto, é preciso apontar brevemente alguns pontos da história da Igreja:
A fundação da Igreja: Et ego dico tibi, quia tu es Petrus, et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam, et portae inferi non praevalebunt adversus eam. Et tibi dabo claves regni caelorum. Et quodcumque ligaveris super terram, erit ligatum et in caelis: et quodcumque solveris super terram, erit solutum et in caelis.2 (Mt 16,18-19)
Perseguição à Igreja por parte dos romanos.
Edito de Milão: afirma a liberdade religiosa dando aos cristãos o direito de professar a sua fé. “A Igreja, oficialmente reconhecida, passa a ter direitos: seus lugares de culto, destruídos ou confiscados, devem ser restituídos. As propriedades devem retornar para as mãos dos seus donos cristãos. O cristianismo fica em pé de igualdade com o paganismo, uma religião 'lícita'”3.
Conversão dos bárbaros: “E, de fato, a Igreja salvou o mundo antigo, feito em pedaços pelos golpes da migração dos povos; foi ela quem abrandou a selvageria dos costumes e uniu os diversos elementos heterogêneos que se debatiam entre si.”4 Bárbaros eram aqueles povos. “À medida que o Império Romano decaía, a Igreja assumiu muitas de suas funções e ajudou a manter a ordem no meio do caos que se generalizava. O fato de nem tudo se haver perdido se deve em grande parte à influência ordenadora da organização eclesial. Por ela foram estimulados os ideais de justiça social, preservada e transmitida a cultura antiga e civilizadas as populações bárbaras.”5
Carlos Magno: “A sua preocupação principal foi, desde o princípio, espalhar em toda parte o cristianismo. E não lhe bastava fundar a Igreja em todos os seus domínios, esforçou-se por organizá-la e levar o seu povo a um nível mais elevado de moralidade e de cultura.”6
Séculos XII e XIII – apogeu medieval: “O século XIII representa o período áureo da teologia e da filosofia. Esse fato é decorrente de muitos fatores: a criação das universidades, a instituição das ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos) e o contato do ambiente ocidental com obras filosóficas até então desconhecidas, entre outros. [...]” 7
A IGREJA E O ESTADO
A Igreja Católica foi a instituição que maior influência teve na Idade Média. Desde seu tempo sofrendo perseguição em Roma até seu apogeu, quando fundou universidades, catedrais góticas etc, crescia gradativamente. O homem medieval valorizava a fé. A sociedade era teocêntrica, ou seja, tudo era por Deus e para Deus. A filosofia e a arte da época refletiam essa mentalidade.
A Igreja e o Estado se uniam de tal forma que ambos defendiam a fé cristã. O que surgisse contrariando essa unidade de fé, era tanto uma ameaça para o Estado (rebeliões, crimes etc), quanto uma ameça para a Igreja (heresias, blasfêmias etc). A verdade devia ser defendida, não se aceitando o erro. Aceitá-lo, seria colocar em pé de igualdade a verdade e o erro. Não havia os “diálogos ecumênicos” como os de hoje, em que se pressupõe que todas as religiões são certas. “É muito mais grave corromper a fé, que é vida da alma, do que falsificar o dinheiro, que serve à vida temporal. Ora, se os falsificadores de moeda ou outros malfeitores logo são justamente condenados à morte pelos príncipes seculares, com maior razão os heréticos desde que sejam convencidos de heresia, podem não só ser excomungados, mas justamente serem condenados à morte.”8
“Na Idade Média, a revolta contra Deus não era menos digna de castigo do que a revolta contra o próprio soberano. Tanto os soberanos como os vassalos consideravam a conservação da religião católica, a única verdadeira e divina para eles, como um bem social, muito mais importante do que todos os bens naturais. A legislação dos países da Europa era baseada numa íntima aliança entre a Igreja e o Estado; qualquer desobediência contra a religião era punida segundo as leis civis.”9
Como o mundo medieval dependia da Igreja Católica e a vida era ordenada conforme o catolicismo (a liturgia, o calendário, o toque dos sinos etc), é natural que aquilo que de alguma forma contrariasse a religião, a política, a sociedade, não fosse bem quisto. Enfim, é preciso ter claro e firme o entendimento da ligação entre Igreja e Estado como um passo para se compreender a Inquisição.
Referências Bibliográficas:
[1] AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. Para Entender a Inquisição. 5ª ed. Editora: Cléofas, Lorena (2011). Pág. 20.
[2] COLUNGA, Alberto; TURRADO, Laurentio. Biblia Vulgata. 12ª ed. Editora: Biblioteca de Autores Cristianos, Madri (2005). Pág. 978
[3] Bíblia Católica. Disponível em:
[4] ROMAG, Frei Dagoberto. Compêndio de História da Igreja – Volume II – A Idade Média. 2ª ed. Pág. 15.
[5] História da Igreja Católica. Disponível em:
[6] Idem [4]; pág. 46.
[7] REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média – Volume I. 10ª ed. Editora: Paulus, São Paulo (2007). Pág. 530.
[8] AQUINO, Tomás de. Suma Teológica – Volume V. Editora: Loyola, São Paulo (2004). Pág. 183.
[9] Idem [1]; pág. 47.
Texto original: http://letraseciencia.blogspot.com.br/2012/08/os-tribunais-da-santa-inquisicao-parte-1.html
*Obs.: Antes de lançar críticas quanto à bibliografia aqui exposta, leia o livro do Professor Felipe Aquino e observe a bibliografia do livro que conta com estudos de livros de autores católicos, protestantes, ateus e grandes historiadores. Estude as duas versões e crie suas próprias conclusões.
AQUINO, Prof. Felipe. Para entender a Inquisição. 3ª ed. Lorena: Ed. Cléofas,
2010, 304p., ISBN: 978-85-88158-56-6.
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